Há tempos ouvimos dizer que
existem várias definições sobre o que vem a ser Cultura, porém nenhuma destas
satisfazem as atuais situações e evoluções por quais a gestão da cultura vem
passando. Os questionamentos foram inevitáveis e então houve a necessidade de
se criar uma nova definição do que é cultura.
Segundo a definição genérica formulada por Edward B.
Tylor, cultura é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a
arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades
adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Vários outros pesquisadores
e pensadores se arriscaram em definir a cultura como manifestações populares
variadas dentro do campo das artes e, contudo em momento algum se diz que
cultura é formada por coisas boas.
Ocorre que cada vez mais o
sentido da palavra “Cultura” foi se distanciando da sua verdadeira raiz, que é
cultivar, criar, ensinar, aprender, pensar, debater, adquirir conhecimento,
transmitir conhecimento, que se acumulam e se expandem com ciclos e renovações
dentro do âmbito material ou imaterial.
Hoje em dia, entidades da
sociedade civil organizada, agentes públicos, produtores, gestores de arte,
etc, utilizam-se do termo “Cultura” para designar Shows musicais, peças de
teatro, festas, apresentações artísticas, exposições e tantos outros EVENTOS.
A nomeação mais adequada
para tais eventos é “Produtos Culturais”, ou seja: São resultantes de um
processo de criação e desenvolvimento, estudos, pesquisas, trocas de
informações, aprendizado de costumes através de linguagens locais.
Em decorrência desta
nomenclatura “cultura” dada a eventos, a cultura como formação vem sofrendo uma
baixa na aplicação de recursos e reconhecimento da sua verdadeira função.
Outros eventos como jogos de
futebol, missas, cultos, esportes variados, acabam formando grupos de afinidade
que dentro de seus movimentos e desenvolvimentos locais através das trocas de
conhecimentos geram uma cultura local. Isto é: Não é o evento em si que é a
cultura, mas sim os costumes que eles geram.
Uma peça de teatro é um
evento, mas o costume de ir ao teatro é uma cultura. O processo de
desenvolvimento e pesquisa para as ações que compõe o espetáculo é cultura.
Todo o processo de informação adquirida para compor um personagem é cultura.
Gestores municipais,
estaduais e federais vêm aplicando recursos nos produtos finais e não nos
processos de desenvolvimento.
Uma expressão
matemática que conhecemos quando criança na sala de aula nos ajuda a entender
um pouco mais o sentido da palavra cultura. (Contém, não contém, está contido e
não está contido ). Ex.:
·
Um show musical é um EVENTO que contém em seu
contexto de produção ações CULTURAIS.
Para que isto fique claro analisemos: Para que um show musical seja realizado
há um processo de formação que vai das aulas de música, oficinas de expressão
corporal, tipos de roupas que compões o estilo musical, grupo de afinidades que
gostam do estilo apresentado, expressões utilizadas nas conversas das pessoas
que assistem a este estilo musical, tipo de alimentação consumida durante este
evento, etc. Todos estes elementos que estão
contidos em um evento podem ser chamados de CULTURA, porém o show musical em si é um evento de finalização de
um processo de formação que é realizado com a intenção de diversão, distração,
passatempo ou de exposição como amostra de um resultado do processo cultural.
Da
mesma maneira que isto pode acontecer com outros eventos que qualquer um
poderia dizer que não é cultura. Por ex.:
·
Um encontro de caçadores de elefantes. Isto
aos nossos olhos não é cultura, porém, neste EVENTO está contido uma
série de situações que compõe uma CULTURA:
As pinturas que estes caçadores utilizam como camuflagem, a linguagem que eles
utilizam em suas comunidades, os pensamentos que os levam a acreditar que matar
elefantes seja bom para a comunidade em que vivem, seus pensamentos sobre o
quanto isto os deixa mais fortes ou viris, os produtos artesanais que produzem
a partir das sobras destes elefantes. Tudo isto faz parte de uma CULTURA que está contida neste EVENTO.
Esta visão nos ajuda a separar o que é
um EVENTO e o que é CULTURA do ponto de vista GESTÃO da Cultura.
CULTURA:
Vem
da palavra cultivar.
Cultivar o conhecimento, os costumes, ideias, atitudes, comportamentos que são passados de uma geração a outra por meio da família, da escola, dos grupos de amigos, entre outros. Tem o caráter de formação do indivíduo.
Quando não se tem finalidade de formação e informação, o produto final de uma ação cultural, pode se tornar um evento.
Cultivar o conhecimento, os costumes, ideias, atitudes, comportamentos que são passados de uma geração a outra por meio da família, da escola, dos grupos de amigos, entre outros. Tem o caráter de formação do indivíduo.
Quando não se tem finalidade de formação e informação, o produto final de uma ação cultural, pode se tornar um evento.
EVENTOS:
São ações artísticas ou não, realizadas com o intuito de promover visibilidade a determinados produtos na forma de entretenimento, diversão, recreação, e que não agrega valores produtivos de formação pessoal à comunidade local.
Um evento artístico com intuito de formação e informação pode se tornar uma ação cultural.
São ações artísticas ou não, realizadas com o intuito de promover visibilidade a determinados produtos na forma de entretenimento, diversão, recreação, e que não agrega valores produtivos de formação pessoal à comunidade local.
Um evento artístico com intuito de formação e informação pode se tornar uma ação cultural.
CULTURA
É UM CONJUNTO DE SABERES E FAZERES QUE ADQUIRIMOS DURANTE A NOSSA VIDA E QUE
MOLDAM NOSSA FORMA DE PENSAR, AGIR, ANDAR, FALAR, SE EXPRESSAR, SE ALIMENTAR,
SE VESTIR, INTERAGIR E DE EXISTIR.
A
cultura está no processo e não no produto!
Neste contexto de apresentar
a cultura como um processo, podemos facilitar a visão e definirmos melhor os
recursos para que esta aconteça.
Texto de: Marcos Lima – Gestor Cultural
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